A escolha de Cecília
- Saulo Marzochi
- 5 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
Comentei com um amigo que não suportava o timbre elitizado da Cecília Malan, correspondente do jornalismo da Globo em Londres. Ele me disse que a voz dela é assim mesmo, que ela é muito gente boa e gata. Achei aquilo estranho, “gente boa e gata”, como se fossem duas coisas inconciliáveis. De fato não é fácil encontrar uma mulher extremamente gata, ainda mais gente boa, e realmente talentosa. O que não significa dizer que as feias são legais, muito pelo contrário, algumas mais infernais até vestem a embalagem do que são, mostrando logo de cara a que vieram. E por quê? Isto se deve ao fato do Brasil ser um país de feios e machistas. Primeiro que por serem muito atraentes, as extremamente gatas não precisam de caráter, pois nunca estão sozinhas, com sua legião de admiradoras superficialistas. Além disso, não precisam de talento, pois já nasceram gatas. Foram mimadas por seus pais que as achavam lindas, e mais tarde pelos seus colegas da escola, bajuladores onanistas. Na vida adulta, são disputadas como troféus, principalmente quando sabem comer, falar e vestir. A mulher muito gata só tem duas opções, ser uma gata blasé ou uma gata extrovertida, que logo será taxada de piranha, apenas por chamar muito a atenção. Quando são extremamente inteligentes é também a beleza que lhes coloca em descrédito, talvez pelo estigma da categoria das loiras burras. Esta dissociação entre beleza e inteligência nos remete a Grécia antiga. Sócrates já havia alertado sobre os perigos que representam os belos e como evitá-los, pois que “seus olhares ferem como flechas”. A ideia da mulher como ser pensante é uma invenção moderna, assim como a infância e o homossexualismo. Para a sociedade greco-romana, que ainda reverbera em nossos dias, elas eram segregadas a reprodução, aos afazeres domésticos, sendo delegado ao homem a produção do pensamento, enquanto a mulher não poderia ser livre para tomar as grandes decisões, “mudando de opinião conforme a lua”, produzindo apenas a discórdia entre os homens, e a competição entre suas semelhantes.

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