O dia em que defequei sobre um prato de macumba
- Saulo Marzochi
- 11 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
Há quem diga que a perna ou o pé apodrecem se chutarmos qualquer oferenda. Tudo começou no Chile, quando abri a primeira pagina do jornal La Nacion no hotel em Santiago. Duas notícias em destaque me chamaram a atenção: A legalização do divórcio e os mariscos contaminados. “Atenção ao aquecimento da água que contamina os mariscos!”. Não dei a menor bola, pois a final estava lá para comer os deliciosos frutos do mar e, como todo brasileiro, os avisos são sempre para os outros. Me esbaldei em caldeiradas e quando cheguei à Argentina comecei a sentir os efeitos de tamanha rebeldia. Febre alta, vômito, diarreia, uma intoxicação que me deixou de molho pelo resto da viagem. Já no Rio, ainda não recuperado, um amigo ligou: - Vamos fazer a trilha da Cachoeira do horto? Respondi que não, que ainda estava doente. Ele insistiu e acabei cedendo. Combinamos de nos encontrar na Rua Paxeco Leão. Logo no início da subida, uma dor de barriga incrível. Esperava chegar à floresta densa, que nunca avistava. Quando não mais aguentei entrei no primeiro mato cerrado, só deu tempo de me apoiar numa árvore frondosa e (...). Quando olhei para baixo percebi que havia feito justamente sobre um prato de macumba, caindo logo em cima do arroz. – Estou condenado! Pensei. Meu amigo não acreditou, como também não quis ver para crer. Ficamos com certo receio, pois o horto contém uma forte energia afro-sincrética, talvez por ter sido uma fazenda escravocrata no passado, assim como a Floresta da Tijuca.
Depois do banho na cachoeira nos deparamos com duas senhoras vestidas de branco, uma delas possuída por um espírito, sendo assessorada por outra (a sóbria), que apenas rezava. Meu amigo então apontou: - Olha lá, o nome disso é “encosto”. A mulher “encostada” então se dirigiu a mim dizendo: - Você gosta de nadar, não é? – Sim, gosto. Respondi. Meu amigo então me repreendeu - que não se pode responder ao encosto, ainda mais depois de ter cagado na macumba. E assim terminamos o passeio, sem saber o que me reservaria naquele dia em seu decorrer. - Fique esperto heim! Meu amigo recomendou. Ao Exu Caveira, ao Tranca Rua, à Pomba Gira, só tenho a dizer que foi sem querer.
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