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A trilha sonora do Armagedon

  • Foto do escritor: Saulo Marzochi
    Saulo Marzochi
  • 1 de mar. de 2016
  • 2 min de leitura

Já sou do tempo em que o CD era chamado de disco laser. Lembro quando meu pai chegou em casa com a novidade. Agora não precisaríamos mais rebobinar a fita, nem virar o lado da bolacha. Além da dimensão minimalista, aquele objeto tecnológico ainda produzia feixes de luzes coloridas, como um prisma. Pensei que as sete notas musicais estivessem relacionadas às sete cores do arco-íris que aquele objeto produzia. Até o nascimento do Napster, KazaA, Emule, o consumo musical era capitalizado pelas gravadoras e lojas de discos. Pagávamos uma fortuna pra comprar um CD com dez músicas, gostando apenas de três ou duas. Trinta reais era o valor médio de um CD em 1998! E escutávamos sempre as mesmas faixas, que eram decoradas e tiradas no violão e mescladas ao nosso cotidiano. Uma das preocupações correntes era se o seu colega lhe devolveria o CD emprestado, que se voltasse ainda vinha arranhado. Com a internet não estamos mais presos as mesmas melodias, senão errantes entre milhões de discografias, sem saber o que escutar primeiro.

Quando eu era criança eu achava que o pessoal da MPB era da minha família, pois as capas de disco eram como porta-retratos. Eu achava que Chico Buarque e a Betânia poderiam ser meus tios. Todo mundo tem um tio na família que é músico, poeta, alguém supertalentoso que resolveu fazer matemática ou engenharia - e o Chico Buarque se enquadrava perfeitamente nesta categoria de “tio”, com letras lindas e uma voz de pato, distintamente dos artistas internacionais que se distanciavam por camadas de maquiagem, laquê e pirotecnias.

Mais tarde conheci as bandas de rock que preenchiam o vazio de uma geração completamente perdida, que queria gritar frente ao fogo cruzado do consumo, sem saber que estavam consumindo. Uma das bandas que mais me identifiquei fora apresentada como sendo uma banda brasileira: Sepultura. Jamais seria possível fazer tanto sucesso no Brasil um som tão experimental, pesado e original como o deles, a trilha sonora do armagedon, que acabou definindo as bases do metal contemporâneo. Se não fosse o hemisfério norte o Sepultura não existiria, os integrantes estariam fazendo um roquezinho pseudo alternativo numa baladinha de São Paulo. Nossos artistas sofrem um processo de Maria-Gadudização, que é a vontade de ser mainstream (sendo um cantor de restaurante), achando que para isso basta pedir a benção dos velhos pajés da música brasileira, seguindo caminhos já trilhados.


 
 
 

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