Antônio conseguiu o novo emprego
- Saulo Marzochi
- 11 de jun. de 2016
- 2 min de leitura

As vezes acho que meu senso de humor é sulfúrico por corroer as relações, e minha sinceridade é patológica. Sou o resultado desastroso de uma das propostas de educação de vanguarda dos anos 80, a geração do " é proibido proibir", e por isso fui um adolescente intratável e hoje sou um adulto em tratamento. Como só consigo mentir pra mim mesmo, outro dia o motorista que trabalhou lá em casa em minha infância deu meu telefone como referência para conseguir outro emprego. Na época eu estava com muita depressão, minha mulher tinha me largado, não conseguia nem comer, e dormia a base de antialérgico Fenergan.
O telefone tocou, era o tal senhor, querendo saber se o motorista era bom mesmo, pois que deveria levar suas filhas pequenas ao colégio. Respondi que sim, fazendo uma análise completa: Que ele era ótimo, que tinha muitas saudades dele, que ele corria um pouco e as vezes chegavam umas multas, mas que era exímio motorista, conhecendo muito bem todos os caminhos, embora discutisse um pouco no trânsito. Que não ligasse para suas piadas racistas, pois que vinha de uma família de vascaínos luso-brasileiros.
Na semana seguinte encontrei o mesmo motorista, que relatou: - Estranho, o velho me dispensou logo depois de te ligar. De súbito, uma culpa me partiu o coração, quando é que eu iria aprender? As pessoas não querem escutar a verdade, mas sim se apoiar em slogans. As pessoas no fundo querem ser enganadas, pois ninguém é perfeito.
Dias depois me ligou o vizinho do senhor que o dispensou, querendo saber do motorista. Desta vez fui seco na resposta: - Ele é 100%. Resultado: Antônio conseguiu o novo emprego.









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