Que cara eu faço na vernissage?
- Saulo Marzochi
- 18 de ago. de 2016
- 1 min de leitura
Quem começa a frequentar, e não conhece ninguém, não sabe o que fazer com as mãos: se segura a taça, se cruza os braços, se coloca a mão no bolso, ou espera o próximo garçom.
Quando se conhece todo mundo, se abre um sorriso congelante, de múmia himalaia, de um “-Oi, tudo bem?” intermitente, que só há de desfazer-se ao sair à francesa pra ganhar as ruas. Sem falar dos falsos “parabéns” aos artistas que estão expondo, com a inveja amarga e venenosa de desejar expor em seus lugares, que só pode ser disfarçada mesmo pela cara blasé que fazemos quando estamos no meio das artes plásticas, num circo de pulgas, ou diante de um rei nu.
As vernissages atraem cada vez mais pseudo artistas, pseudo globais, pseudo-pseudos, e pseudo intelectuais, loucos para agregar algum valor as suas vidas medíocres, para que os outros os considerem um pouquinho mais sofisticados, com o mesmo intuito daqueles que fazem curso de enólogo, ou cozinham comida étnica ao som de Ravi Shankar.
Óbvio que é necessário dar um tapa no visual, podendo até se vestir de mendigo-chique. Um bigode meio Dali, uma cicatriz bizarra na cabeça raspada à máquina, um tênis meio diferente, cada detalhe pode fazer a diferença pra dizer que é um pouquinho mais artista do que os outros. Mas também é possível ser totalmente sério, tem de ser sério mesmo, pra deixar todo mundo constrangido com seu silêncio de infindável e esmagadora sabedoria - um olhar aterrador, Milton Machadiano. Um olhar que dá medo de perguntar.
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