Prezados mortos,
- Saulo Marzochi
- 22 de set. de 2017
- 1 min de leitura
Depois dos trinta, os anos andam como se nos ignorassem, sem bom dia ou boa noite, não mais seguram a porta do elevador. Por mais que arregalemos os olhos, não vemos a passagem do tempo, nem o crescimento das plantas, da barba e dos cabelos. Mas ele se esvai silenciosamente, basta dormir e acordar com a cara no travesseiro, querendo ou não, irá passar. Mas o tempo é massa simbólica, que estica ou comprime de acordo com nossa vontade. Horas inesquecíveis, por vezes, ficam acessíveis na memória que se erradia. Que pena não ter um diário para anotar tantas horas incríveis que me esqueci, momentos que se não lembro, então me foram roubados. O tempo do corpo humano é tão curto, que é como se já estivéssemos mortos. Com muita sorte, seremos um post póstumo de facebook de alguém que gostava de nós. Certamente com algum texto bobo dizendo que viramos uma estrelinha, sem fazer juízo do que realmente fomos. Em breve estaremos em um caixão, onde não haverá mais como agir, interagir, responder, declarar, produzir, amar, lutar, curtir e também odiar, ofender, o que é ou foi tão desnecessário. Lá, todas as oportunidades terão finalmente se esgotado. Temos nos auto-hipnotizado para tentar sublimar a morte certa e eminente, nos apoderando de uma falsa sensação de eternidade, de que seremos lembrados enquanto a vida segue, e nos esquecerão, como esqueceram tantos de vocês.
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