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Playboys grisalhos

  • Foto do escritor: Saulo Marzochi
    Saulo Marzochi
  • 22 de out. de 2018
  • 6 min de leitura

Quando o jovem está finalmente preparado para o mercado de trabalho, está fraco emocionalmente e espiritualmente, pois até essa altura da vida foi tratado como idiota. Como se suas opiniões, vontades e anseios não tivessem qualquer relevância até então. A solução também não é levar a sério um jovem já infantilizado. Ele deveria ter sido tratado com seriedade e respeito desde o inicio de sua infância, o que pode significar ajudar a lavar a louça e limpar a casa, dando alguma recompensa ou associação positiva em troca. Você lava o carro e eu te levo no Tivoli, por exemplo. Eu

Sou a favor do trabalho, mas não da exploração infantil. Acho que aos vinte e poucos anos, já é tarde para começar. O jovem que teve sua infância e adolescência postergada, provavelmente se decepcionará e ficará muito frustrado com seus primeiros contatos com o trabalho no mundo real. A grande verdade, é que não é mais possível educar alguém depois de dez anos de idade. Os pais devem fazer um grande esforço para educar seus filhos até esta idade, e caso consigam, poderão ir relaxando nos anos subsequentes, pois “cachorro velho não aprende novos truques”. É por isso que os norte-americanos tem essa obcessão por losers e winners, que eu mesmo achava tão estúpida. Não se trata de pragmatismo, circunscrição do pensamento, ou pequenez da alma. Em nossa educação prafrentex, que relativiza tudo à francesa, com um humanismo rousseaunianos de botequim, fazemos pouco caso do pragmatismo norte-americano e na divisão do mundo entre vencedores e perdedores. No fundo, vencedores são aqueles que desde cedo fizeram uma associação positiva com o êxito. Damos erradamente medalhas para todas as crianças, até aquelas que não ganharam a competição para não traumatiza-las. Dizemos que tal criança deve ser “café-com-leite” num dada brincadeira, só por ser mais nova. E quando essas crianças chegam tardiamente ao mercado de trabalho, vinte anos depois, se frustram, entram em depressão, ou dão um chilique quando não são elogiadas. Alguns, em pouco tempo, se transformam em playboys grisalhos intratáveis, que até espancam ou matam suas mulheres, quando são homens. São aqueles que terminam de comer e não lavam a louça, ou vão tirando um copo d´água atrás do outro para a desgraça da empregada.

Por terem sido mimados a vida inteira, surtam agressivamente quando algo foge aos seus planos, normalmente com o mais fraco, com a mulher, ou com o mais pobre. Não há mais mamãe para dizer que você é maravilhoso, e que sua namorada é boba de terminar o relacionamento. No trabalho, não há mais a escola para garantir que você é privilegiado, e que basta ser formado em qualquer coisa que choverá emprego. Aliás, esta é a retórica abraçada pelas escolas, e os pais entram na onda por puro comodismo. Em vez de educar, terceirizam a educação de seus filhos, para se livrar da responsabilidade, pois a final a vida já é bastante estressante. Como já pagam uma fortuna para a escola, se eximem ainda mais da obrigação de educar e conversar com seus filhos. E muitas dessas escolas são geridas por playboys grisalhos. Na faculdade a mesma coisa. Todos fingem ensinar e formar, mas na verdade aqueles professores pertencem todos a mesma panelinha, fingindo trabalhar, se nada do que ensinam pode ser aproveitado na vida real ou no mercado de trabalho.

Vocês já perceberam que os velhos estão cada vez mais joviais? Que os jovens estão cada vez mais insolentes e irresponsáveis? E que as crianças, por conseguinte, cada vez mais retardadas? Na geração de meu pai, aos doze anos, o pequeno rapaz já poderia carregar arma de fogo e dar tiro em ladrões de cachos de uva na fazenda. Era outro nível de responsabilidade carregar uma cartucheira, mas hoje, as crianças da mesma idade estão dando risada correndo atrás de Pokemon. E isso é bom para a indústria das escolas, das faculdades, e para o mercado de trabalho dos mais velhos, pois é uma forma dos mais velhos preservarem seu nicho ecológico, retardando os mais novos e suas entradas em qualquer profissão, visto que as pessoas estão vivendo mais e sendo mais exploradas. Os ursos e os lobos preferem matar os filhotes excedentes da alcateia. Seria até mais humano, do que retardar uma pessoa a vida inteira e depois, repentinamente, cobrar uma dívida aos vinte e poucos ou trinta anos de idade.

Mesmo, condicionado erradamente pela cultura vigente, me vejo mongolizando crianças, falando com elas como se não pudessem compreender situações mais complexas. Fomos condicionados assim. Na idade média e antiguidade, o mundo era dominado por crianças adultas, uma espécie de terra do nunca, pois as crianças e os jovens iam para guerra, matavam, transavam e davam golpes de Estado. O jovem de hoje, quando finalmente almeja entrar no mercado de trabalho, já é tarde, e não necessariamente o jovem burguês. A falsa elevação do nível econômico da sociedade brasileira nos últimos tempos, fez com que uma geração recente de jovens de classe média baixa ou baixa, não trabalhasse. Daí não sabem lavar a louça, nem dar bom dia. Mesmo fazendo até uma faculdade de direito por correspondência, não passam obviamente na OAB, e depois viram caixas de supermercado, mesmo formados em direito.

Via de regra, o jovem humilde teve que ajudar os pais na feira, ou em qualquer outro trabalho. Aprendeu, desde o inicio, que existe uma relação direta entre trabalho e retorno financeiro, como bens, divertimento ou comida. O jovem burguês não tem esta sensação de missão cumprida depois de uma atividade laboral. A vida é uma gaiola dourada entediante, e por isso fará uma possível associação muito negativa com o trabalho. Os pais do jovem burguês não querem que o filho trabalhe e se iguale aos mais pobres, esquecendo que esta é a maior lição de todas. Querem que seu filho estude, e ostente uma formação maior e mais sofisticada do que a dos outros, sem se preocupar com a formação moral, como se esta pudesse ser adquirida em livros. Se der errado, será para sempre um loser. E se der certo, será muito metido e arrogante. Não há como alguém que trabalhou na infância ou ajudou um pouco, virar bandido na vida adulta, pois desde cedo, a associação entre trabalho e retorno se fez muito clara. Já o jovem burguês, sabe que precisa se acotovelar com muitos outros para conseguir seu primeiro estagio na área que almeja, e caso consiga, não ganhará quase nada em troca. Vai trabalhar de graça, e está aí a primeira associação negativa. Por mais que trabalhe, jamais conseguirá manter o padrão de vida que seus pais lhe deram no inicio da carreira ou mesmo no meio. Este é o resultado de estudar em escola de rico, pra depois optar por alguma carreira criativa que todo mundo quer, e que justamente por isso não dá muito dinheiro. Qual a solução? Mudar pra São Paulo? Londres? Nova Zelândia? Assim, a única opção do filho burguês é herdar a carreira de seus pais ou algum empreendimento. Se optar pela área cultural docente ou criativa, acumulará títulos, notoriedade, e nenhum dinheiro. Não poderá ter filhos porque não tem dinheiro, mas filho, até pobre tem, e como têm! Quanto mais pobre o bairro, mais criança, porque rico não tem paciência de educar, e não é chique ficar gritando com criança por aí. Mas os filhos dos pobres ajudam seus pais, diferentemente do filho burguês, que só sabe falar mal dos pais para o psicanalista que os pais pagam. E dá-lhe remedinho, desde a infância, pois ninguém reconheceu o tédio que é a infância burguesa, sem brincadeira na rua, sem amarelinha, sem pipa com cerol. O ser humano precisa se desenvolver como o grande primata que de fato é, e não ser jogado numa gaiola dourada, cheia de distrações artificiais e teatro de sombras digitais, num mundo de fantasias.

Quando uma criança entra na escola com um fuzil e metralha seus próprios coleguinhas e professores não fico nem um pouco surpreso. É como um gorila que escapa da jaula e mata seu tratador. Isto é o sintoma lógico e evidente da falência da educação, da pedagogia e do modo de vida no qual se configurou a sociedade atual, baseada no tédio, no consumo, nos costumes de retardar as crianças e desconectá-las da realidade pelo medo de traumatiza-las, e pela alienação exercida pelos meios artificiais onde o calor humano é deixado de lado. Porém, não existe aprendizado sem trauma, e o momento de aprender vai até os sete, oito ou nove anos de idade. Depois disso, o estrago já esta feito! E não é porque você paga escola cara, psicopedagoga, e dá um presentão com uma festa de arromba no play, que você está cumprindo seu papel de pai ou de mãe. Seu filho, quando for adolescente, será intratável, quando for adulto não aceitará que não é mais jovem e depois disso, caso tenha sucesso, será um playboy grisalho irrepreensível.


 
 
 

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