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Polarização política

  • Foto do escritor: Saulo Marzochi
    Saulo Marzochi
  • 25 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Não há nada mais infrutífero do que a polarização política. Ela consiste em definir, basicamente, que o seu time é o fodão, e que o do outro é uma merda. Tudo o que diz respeito ao outro é sempre absolutamente ruim. Será mesmo que não há nada de bom no outro? E pior, nessa ditadura da ignorância, diz-se que o outro pensa assim ou assado, devido a algum viés ideológico. E isso é repetido ad infinitum, principalmente pelo nosso presidente da república, este que fala qualquer coisa sem qualquer embasamento, o que tem deixado o Brasil e o mundo cada vez mais perplexo.

A origem dessa polarização política pode estar em nossa cultura latino americana. Colonizadas antes das reformas e das revoluções importantes, as colônias latino-americanas conservaram o comportamento do cristianismo arcaico, baseado no messianismo e no maniqueísmo. Ideias infantis para explicar o mundo, dividindo-o entre o bem e o mal, além da esperança de que um dia Dom Sebastião, que é uma espécie de São Jorge, voltará da guerra para resolver todos os nossos problemas. E quando tentamos explicar que Sergio Moro não é o Batman, e que Bolsonaro não é o Super-homem, ficam com muita raiva. Raiva do jornalista sério que deu a noticia verdadeira. Raiva de não encontrar mais um para sustentar sua narrativa infanto-juvenil, de um mundo dividido entre super-heróis e vilões. Aliás, é tudo uma questão de narrativa - e as pessoas estão cada vez mais carentes de narrativas para justificar ou simplificar suas vidas.

A parte responde sempre pelo todo a fim de forjar uma ideia tendenciosa da realidade: imagens de estudantes de teatro pelados, professores petralhas, estudantes militantes... O governo Bolsonaro quer que o brasileiro médio acredite que todos os nossos cientistas, pesquisadores, servidores, professores, funcionários públicos, que todos eles são petistas. Mas a parte não responde pelo todo, e assim, devido a noticias de whatzap, o brasileiro médio esta sendo levado pelo bolsonarismo, a achar, por exemplo, que só existem drogas e putaria nas universidades públicas, por causa de meia dúzia de vídeos, gravados sabe-se lá em que ano, sabe-se lá onde, divulgados ad nauseum, por uma direita degenerada e praticamente neonazista. A verdade é que existem vermelinhos em qualquer lugar. Os bilionários irmãos Moreira Salles, por exemplo, se consideram esquerdistas, ou socialistas, pois assim dormem com suas consciências limpas num travesseiro de plumas.

E o substrato principal do nazismo é a ignorância. Gente que nunca pisou numa universidade publica começa a desmerecer todas as universidades e todos aqueles que trabalham ou estudam nelas. Gente que nunca ouviu falar de método científico, começa a refutar dados e conclusões de instituições respeitadas internacionalmente. E o pior, é que essa gente mequetrefe e desqualificada tomou o poder, direto da Barra da Tijuca, só podia ser...

Numa sociedade polarizada, criticar os pecuaristas nazi-evangelicos dá no mesmo que defender os bolchevo-lulo-petistas, ou vice-versa. Estamos vivendo um triste momento de culto a ignorância voluntária. Justamente numa era de tanta informação disponível, os brasileiros se tornaram burros por opção. E o país está num caminho perigoso, tomado por gente que acha que jornal é para limpar a bunda, e que prefere se informar pelo zapzap. Aliás, jornal nunca foi a mídia dos burros, imagine, dezenas de páginas de notícias, com espaço para opiniões, colunas e até cartas de leitores. Eles nunca leram jornal, e de uns tempos pra cá passaram a ler zapzap, que é a mídia que têm disponível, instantaneamente à mão. É por isso que vou me embora pra Passargada.


 
 
 

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