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Genialidade feminina

  • Foto do escritor: Saulo Marzochi
    Saulo Marzochi
  • 3 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

Outro dia no jantar, fiz uma indagação machista: Com exceção de Camille Claudel, não conheço nenhuma mulher realmente genial. Mas por que será? Na faculdade e no parque lage, os melhores professores eram homens. Na literatura e nos livros de história da arte, também. Com exceção, talvez, de Clarice Lispector. Será que as mulheres são, em sua maioria, idiotas mesmo, e só servem pá vê ou pá comê? Será que minha visão machista não consegue admitir a genialidade de uma mulher? Será que as mulheres são tolhidas desde a infância, (por homens e até mulheres), para não acreditarem em si mesmas? Será que não reconhecemos ideias originais nas mulheres, condenando-as a mera repetição das ideias anteriores, proferidas por machos palestrinhos? Mas a própria ideia de genialidade é, de tempos em tempos, colocada em cheque. Pablo Picasso, por exemplo, era considerado um gênio pelos teóricos da arte nos anos 50 e 60. Na visão de hoje, não passa de um canastrão, assim como Portinari.

O fato é que, ao nos depararmos com uma mulher com ideias originais, tendemos a rotulá-la de louca. No mínimo, ela estaria errada. E imediatamente pensamos: - “Cale-se! Sua puta louca!”. Para que a mulher seja ouvida na empresa, ou na academia, tem de proferir ideias de algum teórico masculino. Em quase todos os níveis, é dado às mulheres duas opções: Se manter calada para seu próprio bem, ou repetir as ideias dos homens. Não adianta vir com esse papo de empoderamento, ou feminismo, esta ideia é atávica, já que figuramos na própria concepção de um Deus único, um homem, de barba branca, um tipo de papai Noel sem trenó.

Partimos do principio de que as mulheres são sempre mais ingênuas, mais limitadas, menos criativas. Mas talvez a origem dessa divisão de tarefas baseada no sexo, seja muito remota. Na idade da pedra, muito provavelmente, era preciso ser do sexo masculino para caçar um mamute. As mulheres não tinham a força física, e talvez não tivessem o sangue frio para matar, enfiando uma lança no coração da presa. E poderiam se perder ao tentar voltar pra casa. Se resignavam a cuidar das crianças, a cozinhar, a fazer artesanatos, especializando-se em administrar vários afazeres ao mesmo tempo. Hoje, tanto o papel da mulher mudou, quanto o do homem, que também tem de fazer várias coisas ao mesmo tempo, deixando sempre o leite transbordar ao ferver, e esquecendo algum cuidado fundamental em relação as crianças.

Mas nada é mais insuportável do que o marqueting do empoderamento feminino. Além de ser mencionado ad nauseum, não ajuda de fato as mulheres. Ser mulher não é adjetivo, não é qualidade, assim como ser mãe. Ser mulher e mãe é algo puramente circunstancial, e deve ser tão difícil quanto ser pai, cada um, à sua maneira. Se existem mulheres-mães, com jornadas triplas de trabalho, com certeza existem homens-pais, com jornadas quádruplas, e muitos deles arriscam a vida consertando a parabólica, ou fazendo um gato de energia num poste. E ninguém fica por aí falando – “Sou homem, sou pai, sei trocar pneu, sei subir no poste...”. No fundo, as mulheres se vitimizam quando interessa receber alguma compensação por serem consideradas do sexo frágil, e se fazem de empoderadas quando interessa tirar onda na rede social: -“Eu, que sou mulher, que sou mãe, sou guerreira, etc...” E este clichê, também deve soar um pouco soberbo para as mulheres que ainda não tem filhos. Se tudo isso fosse verdade, homens ricos e endinheirados não teriam tanta facilidade para conquistar as mulheres. Se ter muitos filhos é sinônimo de empoderamento, empoderadas seriam as franzinas sertanejas nordestinas.

E para compensar o machismo, algumas mulheres acham que para serem ouvidas precisam engrossar a voz, fumar cigarro, se comportar de forma durona e autoritária, no estilo Rousseff, como se a persuasão da mulher não pudesse se dar através da feminilidade, mas apenas pela estética lesbocêntrica.


 
 
 

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